quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pequeno conto pós-viagem...


Ela conferiu a aerodinâmica de suas asas novas e rumou em direção ao leste. Buscava um canto novo de mundo para descansar sua mente. Queria sentir o cheiro do mar outra vez e a alegria de estar na ilha! No seu peito crescia uma vontade urgente de mudar de vida. Ela queria bem mais do que uma pausa naquela sua rotina esvoaçante e cheia de corre-corres. Ela queria mesmo era se reinventar. E essa vontade de mudança fazia ventania dentro e fora dela e levantava tudo pelos ares, principalmente as coisas velhas que ela não queria mais e que insistiam em acompanhá-la na viagem. Então, de dentro daquele nevoeiro e bem no meio da ilha mágica, ela viu um menino de olhos brilhantes e sorriso majestoso. Não era um desses meninos franzinos que sucumbiriam diante do primeiro sopro ou dos ventos fortes que emanavam dela. Não. Era um menino forte, cheio de opiniões e sensibilidades e que preparava misteriosas poções mágicas. Ele era todo terra, terroso, aterrado e naturalmente aromático... O menino preparou um chá de ervas com especiarias e serviu um jantar todo cheio de fragrâncias. Ela então começou a pousar os pés no chão lentamente, num processo que demorou horas e horas até, finalmente, descer inteira do furacão... Dizem que ela comeu, bebeu, dançou e seguiu viagem. O que nem todos sabem é que depois do jantar e da música - quando uma espécie de cumplicidade sutil já tinha se estabelecido entre eles - ela provou de um sabor secreto que o menino guardava com ele, um sabor adocicado e indescritível. E então ela pode, finalmente, descansar ali a sua mente: na doçura daquele beijo e na fortaleza daquele abraço.

E o coração dela se alegrou.

P.S.: Dizem que quando a saudade pesa no peito, ela desce dos céus para sentir os aromas da terra e lembrar-se dele.

- Helô Souza -

sexta-feira, 24 de julho de 2009

É que por enquanto a metamorfose de mim em mim mesma não faz sentido. É uma metamorfose em que perco tudo o que tinha, e o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé em frente de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo de entender, o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas.

-Clarice Lispector -

sábado, 11 de julho de 2009

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