Falando sério, meus sentidos são ainda muito selvagens. O mundo sempre me pareceu excessivo, carregado, com estímulos demais. As formas, cheiros e gostos me atraem de forma especial. Me tragam. Eu os trago também. Um brilho nos olhos, a languidez de um corpo, o branco dos pêlos, o ritmo de uma respiração, a velocidade com que alguém diz, ou pára, suas palavras, a textura das mãos, o som dos risos, o gosto da pele... isso me atinge em cheio, e vai compondo conjuntos que se misturam com minhas lembranças e pensamentos... e eu deliro. Sim, eu deliro. Muito. Eu em plena conversa, eu sonho acordada.
Às vezes a melodia de uma voz me interessa, mais que a conversa toda. Poucas coisas me interessam verdadeiramente nas pessoas e a maioria delas são pedaços de pessoas, de coisas, de animais, plantas... como fluxos sempre parciais de intensidade que ressoam em mim. Parece que preciso atrofiar alguns sentidos para viver nesse mundo. Se não é loucura, é overdose.
O mundo me inunda. Tenho até medo de enchente! Se mistura com minhas águas interiores.... E cria redemoinhos internos, cachoeiras, lagos e pequenas poças que refletem paisagens, algumas antigas, já cansadas, e outras por vir, desconhecidas, algumas promissoras, outras não... Tem vezes que a água do mundo congela minhas águas internas e então eu sinto muito frio. Outras vezes a água do mundo explode em gêiseres dentro de mim, me põe em ebulição, a ferver...
A questão é que sempre fui muito sensível mesmo. Hipersensível.